terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Louco, Arcano 0: divina loucura



O LOUCO, o Arcano Sem Número, é a carta do tarot que nos remete à figura estereotipada do inocente, do incauto, daquele que ainda não tem experiência suficiente e nem conceitos éticos e morais definidos. O LOUCO somos todos nós quando nos defrontamos com algo novo, algo que desconhecemos, sobre o qual não possuímos suficiente domínio para que nos sintamos seguros. É quando nos comportamos de forma estranha, aleatória, tentando aprender aqui e ali, brincando com a própria sorte, sem um objetivo claramente definido mas buscando entender o ambiente, as pessoas ou situação. Estamos LOUCOS, por exemplo, quando iniciamos um novo emprego, quando entramos num novo curso, quando nos mudamos para uma outra localidade, quando começamos um novo relacionamento, quando terminamos a faculdade e precisamos aprender na prática aquilo que só conhecemos teoricamente. LOUCOS são os cientistas, os filósofos, os descobridores, os artistas, os grandes educadores, todos aqueles que ousaram, e ousam, ir além do convencional, confiando em sua intuição e na proteção espiritual.

Esse Arcano é conhecido como descompromissado, irresponsável, desocupado, desorientado, não confiável, despreparado, mas lembrando sempre que essas qualidades negativas podem ser percebidas quando, numa leitura tarológica, sua carta surge numa posição menos privilegiada. A seu favor podemos dizer que existe muita energia, disposição, boa vontade, fé, alegria, ausência de malícia,  e abertura para o novo. Viver as energias representadas pelo LOUCO é olhar o mundo como uma criança o faz, sem preconceitos, sem censuras, mas com encantamento. É a descoberta do que significa viver, confiando unicamente nas experiências que vai tendo.
Capa/Parangolé: Arthur Bispo do Rosário

LOUCO é aquele que tem fé, que confia plenamente que algo o protege e guia seus passos. A própria Fé, uma das 3 virtudes teológicas, é muito bem representada na figura deste arquétipo que se entrega, sem questionamento, nas mãos do seu Criador pois ele sente que assim procedendo, nada lhe faltará. Em tempos mais antigos, aqueles que nasciam com alguma forma de comprometimento mental, ou aqueles que desenvolviam algumas características de insanidade eram, também, chamados de “Loucos de Deus”, pois acreditava-se que havia uma estranha, porém espiritual, conexão entre eles e o Divino.
LOUCO podemos considerar os “bobos da Corte”, únicos capazes de criticarem os próprios monarcas sem perderem a vida;  São Francisco de Assis, ao abdicar de todos os benefícios de uma vida de muito conforto e, inclusive, considerar como “irmãos” os animais e os astros; Sidharta, ao deixar o palácio real onde vivia com sua família, despindo-se de todos os símbolos de status e dedicando-se a encontrar a Verdade; também o comportamento de Jesus, fora dos padrões de sua época deixou marcas naqueles que registraram sua passagem terrena:
“A loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens” (1Cor 1, 25). Rejeitado pela família, de modo que “nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele” (Jo 7,5), e abandonado por grande parte dos seus seguidores “muitos dos seus discípulos se afastaram e não andavam mais com ele”, (Jo 6, 66). Para as autoridades judaicas da sua época Jesus era apenas um louco, um obcecado (Jo 8, 48). Somente um louco, um samaritano endemoniado, podia, com efeito, denunciar os chefes religiosos como filhos do diabo e assassinos (Jo 8, 48), e desejar o fim da instituição religiosa que se acreditava fosse desejada pelo próprio Deus.

Portanto, ao receber a carta do LOUCO numa leitura de tarot, use-a como um convite e guia à meditação. Aproveite para rever conceitos e “verdades” que muitas vezes aceitamos sem pensar; observe o quanto de entusiasmo, curiosidade, boa vontade e ação está investindo naquilo que lhe é importante; dedique algum tempo para avaliar como está sua Fé, sua confiança em si mesmo e nas forças organizadoras do Universo (sinta-se livre para substituir “forças organizadoras do Universo” pelo seu próprio conceito do Divino); avalie o quanto responsável você se sente pelas suas escolhas, atitudes e, naturalmente, consequências. E procure também ver-se como possuidor de um espírito eternamente jovem, sempre disposto a novos inícios, sempre pronto a se transformar, crescer e desenvolver-se em busca da própria Iluminação.

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