quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Rainha de Espadas: justiça, igualdade e honra

 

“A Vós, ingleses, que não tendes nenhum direito sobre este Reino da França, o Rei dos Céus vos ordena e intima por mim, Jeanne la Pucelle: retirai-vos de vossas fortalezas e retornai a vosso país, pois senão vos farei tal mortandade que dela se guardará perpétua memória. Eis o que vos escrevo pela terceira e última vez, e não mais escreverei”.         

         Assinado: Jesus, Maria e Jeanne la Pucelle

O parágrafo acima, claro, objetivo, corajoso, extraído de uma carta pedindo a rendição dos ingleses, foi escrito por Jeanne la Pucelle, Joana D'arc, também conhecida como a “Donzela de Orléans, uma visionária e mística francesa que, vestida em sua armadura, lutou pela liberdade de seu país contra os ingleses, nas mãos dos quais foi, finalmente, queimada como herege. 
Santa Joana D’Arc, é o exemplo da mulher que assume um papel considerado masculino em sua época, defende brava e corajosamente um ideal, tem um componente espiritual altamente desenvolvido e sucumbe vítima da intransigência, da arrogância das instituições, da incompreensão de seus contemporâneos, sem nunca perder a sua fé. Uma arquetípica RAINHA DE ESPADAS.

O elemento Ar, que representa nossas atividades intelectuais, mentais, de raciocínio lógico e temperamento colérico, ou seja, gente de “pavio curto”, é tratado no tarot pelas cartas do naipe de Espadas. As pessoas dos signos ligados ao elemento ar (Aquário, Gêmeos e Libra) são conhecidas pela firmeza de sua vontade e capacidade de decisão. Tem gente que chama a isso de “personalidade forte”. Na verdade, são pessoas bastante decididas, francas, autossuficientes, orgulhosas, corajosas, sempre prontas a ajudarem a resolver os problemas, a defenderem causas próprias e alheias. São muito observadoras e frequentemente intrometem-se na vida alheia, o que pode causar-lhes  reações desagradáveis, ainda que estejam movidas das melhores intenções.

Sarcásticos, conhecidos pela sua rapidez de raciocínio e pelo humor ferino, podem provocar situações de extremo desconforto com suas críticas e comentários jocosos. Nem todo mundo está preparado para a maneira crua e direta que usam em suas observações e discursos. Entretanto, são verdadeiros paladinos da justiça, combatendo sempre a opressão e a miséria que é infligida em seus semelhantes. E aqui podemos fazer uma referência a uma figura clássica de defensor dos pobres e oprimidos: Robin Hood. E pode um homem representar um arquétipo feminino? Claro que sim, desde que ele tenha como característica um forte componente de bondade, sensibilidade, afetuosidade e elegância em seu proceder.

Estava pensando em como descrever esse arcano quando me ocorreu que poderia ser interessante associá-lo a duas figuras muito importantes dentro do sincretismo religioso vivido em nosso país: Iansã e Santa Bárbara. Ambas, grande guerreiras, implacáveis defensoras de seus pontos de vista, não aceitam submissão ou qualquer forma de prisão. Uma,  deusa nos altares dos cultos  afro-brasileiros. A outra, santa nos altares católicos.

    iansã Iansã, também chamada de Oyá, foi uma princesa real na Nigéria, mais especificamente em Irá há aproximadamente 3.500 anos. Foi mulher de seu primo, Xangô, ao lado de quem lutou pela conquista de vários reinos que formaram o império Yorubá. Mais tarde, abandonou-o para defender sua cidade natal, disposta, até mesmo, a enfrentá-lo. Grande conhecedora das fórmulas e práticas mágicas,valente, corajosa e dedicada, conquistou o seu direito ao trono de Oyó.
     De Olorum recebeu a missão de atuar sobre todos os aspectos da natureza através do ventos, que ela manipula conforme a sua necessidade de atuação. Às vezes, em forma de tormentas, provocando uma reciclagem, através de mudanças e destruição. Noutras, espalhando o pólen das flores e as sementes das árvores, com uma cálida brisa, permitindo a sua germinação. É ela também que afasta as nuvens, permitindo que Xangô lance seus raios que rompem os reservatórios de água dos céus, fazendo chover.


Santa Bárbara, a sua versão cristã, foi uma jovem mártir dos primeiros séculos do cristianismo.
Morava em Nicomédia, cidade situada na atual Turquia, cujo pai mantinha-a enclausurada numa torre mandada construir para que ela não se desvirtuasse com os hábitos amorais da sociedade da época. Ainda que lhe apresentasse pretendentes, Bárbara os recusava, o que seu pai interpretou como uma forma de rebeldia por viver tanto tempo isolada. Permitiu-lhe então, que fizesse pequenas incursões à cidade, e foi lá que ela se inteirou da nova fé, chegando a ser batizada.
Tendo sua conversão ao cristianismo sido descoberta, seu pai a entregou às autoridades que a torturaram de todas as formas, amputando-lhe os seios, inclusive. Bárbara nunca renegou sua fé para salvar-se.  Ao final de seu martírio, seu próprio pai degolou-a. Enquanto sua cabeça tombava, ouviu-se um trovão e um raio vindo dos céus fulminou seu pai e seus torturadores. Nesse momento, ela ascendeu aos céus, com sua cabeça novamente junto ao corpo e a espada de seu sacrifício nas mãos. Santa Bárbara é invocada como a protetora contra raios e trovoadas e padroeira dos mineiros, artilheiros, caçadores, arquitetos, bombeiros e dos que trabalham com explosivos e fogos de artifício. 

Essas duas figuras femininas, detentoras de uma força e coragem tipicamente masculinas, são grandes representantes da RAINHA DE ESPADAS, e podem ser vistas, também, como símbolos de otimismo, auto domínio, convicção numa crença, filosofia ou ideal, e uma grande habilidade de avançar em direção de seus objetivos e de fazer justiça.
É isso que, numa leitura de tarot, ao surgir essa Rainha, sempre dependendo da posição dela no esquema do jogo, pode-se interpretar como a necessidade de frieza e imparcialidade de julgamento, de capacidade de raciocínio, de interesse e defesa por uma causa nobre; de organização, estabelecimento de ordem, disciplina e, até mesmo emitir um conselho, uma orientação a quem se fizer necessário.

   

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