terça-feira, 29 de abril de 2014

A JUSTIÇA: uma questão de equilíbrio.


Quando pensamos em JUSTIÇA é quase impossível não a associarmos à ideia de crime e castigo, erro e punição, causa e efeito, aqui se faz e aqui se paga. E ela é tudo isso, e muito mais. É, sobretudo, a ideia de equilibrarmos os prós e os contras; de vermos, isentos de tendências, os dois lados de uma mesma questão; de investigarmos o que há por trás das ações cometidas e que as justifiquem. A Justiça, chamada “dos homens”, essa que tem tribunais, acusadores, defensores, juízes e testemunhas, é a física. Existe uma outra, espiritual, que faz parte da nossa alma, que regula as nossas atividades psíquicas, que nos equilibra interiormente, e é essa que, mais frequentemente, o Arcano VIII do tarot, simboliza.

Agora, um pouco da história, da lenda, do mito dessa senhora, a JUSTIÇA:


Métis engravidou de Zeus, mas o Oráculo predisse que essa criança iria ser mais poderosa do que ele. Para evitar esse confronto, ele Zeus engoliu Métis, fazendo com que a gestação ocorresse dentro dele, mais especificamente em sua cabeça. Chegado o momento do parto e sentindo fortíssimas dores na fronte, ele pede a Hefestos (Vulcano), o ferreiro divino, que lhe abra a fronte com um machado. Isso feito, de dentro da cabeça de Zeus surge adulta, altiva e armada, Palas Athena (Minerva). A jovem pede ao pai que lhe permita permanecer virgem (palas) para sempre, pois só assim, longe das paixões, não se corromperia ou deixar-se-ia seduzir e perder a sua lógica, a sua razão. Essa deusa é um símbolo do combate pelo amor à verdade. 
Athena (Minerva) era irmã do solar Apolo, deus da harmonia em cujo templo, lia-se à entrada: “Conhece-te a ti mesmo”. O que isso significa? Que é necessário que reconheçamos nossas verdades, saibamos quem somos realmente e coloquemos às claras as nossas verdadeiras intenções. Devemos nos desmascarar frente a nós mesmos, não tentando encobrir nossos erros e defeitos, ou nossa índole, sob espessa camada de desculpas e justificativas vãs. 

Palas Athena fazia-se acompanhar por uma coruja, ave noturna cuja cabeça gira 360º e os olhos devassam a mais densa escuridão garantindo que todos os detalhes, não importa o quão escondidos ou remotos possam estar, serão vistos, coletados e analisados. Um escudo, com a cabeça da Medusa incrustada, fazia parte do figurino da deusa. Aí também reside uma mensagem pois, diante da Medusa, todos ficavam petrificados. Isso significa que somente aqueles cujas verdadeiras intenções não são motivadas por paixões, tendências ou teimosia, não ficarão paralisados de medo e horror. E, como se todo esse aparato não bastasse, Niké, a deusa alada da vitória, era sua companheira constante, como forma de reafirmar que a verdade sempre triunfa.

Quando a carta da JUSTIÇA surge numa leitura de tarot pode significar que o sujeito deve parar, dar um tempo e analisar friamente a situação antes de prosseguir; situações legais (jurídicas) podem acontecer na vida do consulente; leia e estude detalhadamente documentos, propostas e compromissos que tiver que assinar, dando seu parecer; tempo de ser honesto, responsável e justo; buscar seu centro físico, emocional e espiritual; prudência; procurar trilhar o caminho do meio, afastando-se das extremidades, dos 8 ou 800, dos excessos; é chegada a hora de colher o que foi semeado; justiça divina; tomada de consciência, agir embasado pela consciência; sabedoria; fidelidade no amor e nas amizades.

Estejamos atentos ao fato de que, não importa quem vença a batalha, é ele quem escreverá a história. Toda luta, toda guerra, toda batalha, inclusive as legais são, ao mesmo tempo, uma vitória e um massacre, dependendo apenas do ponto de vista de quem dela participa, de quem a vence e de quem a perde. A JUSTIÇA pode existir à luz de diferentes pontos de vista . O que nos parece injusto num determinado momento e sob uma certa ótica, pode ser assumido como algo bastante justo, com o passar do tempo. O que a carta da JUSTIÇA, no tarot, nos pede é que nos examinemos de forma lógica e bastante objetiva, que encontremos, em nós, a verdade e nada mais que a verdade, mesmo que a isso esteja condicionado o fato de termos de reconhecer que erramos e devemos corrigir o que fizemos.
Devemos assumir as nossas responsabilidades, perdoarmos as nossas fraquezas frente ao nosso próprio tribunal, e nos disciplinarmos em busca de uma maior harmonia, uma consolidação do nosso equilíbrio mental e espiritual. Que nossas ações e julgamentos sejam sempre feitos com sabedoria e amor, visando a harmonia e a cooperação.



Fica, como tema para uma possível meditação, um pequeno conto sufi:
 

Certo dia, um juiz perguntou ao mestre Nasrudin:- Mestre, no caso de você ter de escolher entre a justiça e o dinheiro, o que você escolheria?

- O dinheiro, é claro - respondeu Nasrudin, sem pestanejar.

- O quê! - disse o juiz - Pois eu escolheria a justiça sem pensar duas vezes, porque a justiça não é fácil de ser encontrada, enquanto o dinheiro, este não é tão raro assim. Podemos encontrá-lo por aí sem grandes dificuldades. Estou sinceramente espantado com a sua opção, Nasrudin. Não o julgava capaz de uma ambição, sendo um mestre!

- Meritíssimo, cada um deseja aquilo que mais lhe falta! - respondeu tranqüilamente o mestre Nasrudin.

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