quinta-feira, 10 de julho de 2014

7 DE COPAS: Tentações


Consumir, ainda que necessário, pode ser viciante. Não, eu não faço parte daquele grupo xiita que acredita pia e entusiasticamente que devemos nos contentar somente com o que já temos, não adquirir nem almejar aquilo que possa parecer supérfluo, e desconfiarmos completamente de tudo aquilo que a máquina que movimenta a economia nos empurra goela abaixo.
Claro que também sei que há limite para tudo e que nunca deveríamos comprometer, por mero caprico e impensadamente, aquilo que não se tem para ter-se o que se quer. Também discordo com quem prega o "gaste agora, compre tudo o que quiser. Depois a gente dá um jeito". Isso chama-se irresponsabilidade. Mas também não fiz voto de pobreza, nem pertenço a uma ordem trapista, nem estou desiludido com a vida e tudo o que ela oferece. Por exemplo: os recursos do novo celular, ainda a ser lançado, já me faz olhar para o meu como uma velharia, uma relíquia de...6 meses! Entretanto não irei adquiri-lo se não possuir os necessários recursos na ocasião.


As tentações possuem tentáculos. Óbvio, não é mesmo? Assim elas nos arrebatam da nossa pacifica, e maçante vidinha comum e nos transportam para uma aventura digna de best-sellers e filmes de ação. Subjugam nossa vontade, ignoram qualquer lógica ou razão, e nos seduzem com a ideia de que seremos imensamente felizes se adquirirmos tudo o que quisermos, encontrarmos prazer com qualquer um, formos reconhecidos e bajulados por aquilo que temos. E, "por que não por aquilo que

somos?", poderão me perguntar. Vou arriscar uma resposta: Porque às vezes esquecemos quem realmente somos, e passamos a ser movidos unicamente por sensações, paixões, desejos e poderes temporários, de brevíssima duração. Eternamente insatisfeitos, sempre sentindo um vazio não identificável, vamos nos deixando arrastar, iludidos de que ainda temos algum controle. Ao invés de buscarmos dentro de nós mesmos as causas e soluções para esse "vazio", essa "insatisfação", vamos nos iludindo, presenteando-nos com objetos, atividades e valores externos, cuja ação é momentânea, mas completamente ineficaz.


Na melhor das hipóteses, conseguimos a custo de muito esforço e autocontrole, e com o apoio de familiares, amigos e profissionais, nos libertar da compulsão de cedermos aos nossos instintos menos apreciáveis. Grupos de apoio existem e são eficazes nesse momento. Não é covardia, e nem baixa autoestima, reconhecer-se fraco, carente e dependente. Ao contrário, é preciso ser muito lúcido, para tanto. Ninguém vence sozinho e incólume todas as armadilhas que fazem do viver numa sociedade capitalista uma arte.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A RODA DA FORTUNA: as voltas que a Vida dá

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito sob o céu:
Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
Tempo de plantar, e tempo de colher o que se plantou;
Tempo de matar e tempo de curar;
Tempo de derrubar , e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear e tempo de dançar…
Eclesiastes 3:1-4
Há dias que a gente acorda e o nosso mundo parece que deu uma cambalhota. Tudo de pernas para o ar.

Você acabou de comprar, a duras penas, aquele tão sonhado apartamento e já começou a derrubar paredes, trocar pisos, refazer a cozinha e fazer a mágica de encaixar uma Jaccuzzi no banheiro quando lhe telefonam do escritório dizendo que aquela irrecusável vaga de gerente, muito melhor paga do que o que o seu atual salário, está lhe esperando… em outro estado, numa outra cidade!

Tudo bem. Era, mais ou menos, o que você sonhara por muito tempo: a chance de recomeçar em outro lugar, num outro mercado de trabalho, enfrentando novos desafios, podendo com mais conforto, maior segurança, onde seus filhos poderiam desfrutar com mais facilidade e menos riscos da Natureza. Um lugar e uma oportunidade onde você poderia provar-se ainda mais competente e destacar-se com mais facilidade, obtendo assim uma maior rapidez em relação à ascensão profissional.

Tudo exatamente o que você queria. Só que não agora…

É dessas “peças” que o destino nos prega que o Arcano X (10), a RODA DA FORTUNA, representa. De mudanças súbitas e inesperadas. Dos altos e baixos na vida.

A deusa Fortuna (Vortumna, em etrusco) era adorada pelos romanos como aquela que regia os ciclos do ano. As mudanças como as das estações, dos meses, do caminhar do carro de Apolo (o Sol) desde o seu renascimento, todas as manhãs, até a sua morte, ao final do dia, para novamente renascer. Os ciclos naturais da vida: nascimento, crescimento e morte. Mudanças que estão além do nosso controle e que acontecem independentes da nossa vontade. A RODA DA FORTUNA, no tarot (também chamada de Roda das Mudanças, Roda das Reencarnações, Roda das Retribuições, Roda da Vida, etc) é o arquétipo dessa experiência de nos sentirmos, literalmente, ao sabor das marés do destino. Na verdade, de um oceano absolutamente universal.

Saber como lidar com esses imprevistos, essas surpresas, esse movimento, esses novos padrões que nos são impostos é que é a grande arte. Manter uma atitude otimista, encarar como um necessário ponto de mutação, como o fim de um ciclo já explorado e aprendido e a chance de um novo aprendizado através de uma nova etapa, com a disposição de adaptar-se e aceitar o que lhe é oferecido, seria a atitude mais recomendada. Compreender que as lições que aprendemos a cada etapa de nossa existência fazem parte de um conteúdo programático elaborado pelo Universo para que se acelere a nossa evolução para mais elevados planos espirituais é, também, algo que devemos manter em mente.

O que precisamos, talvez, prestar atenção é como lidamos com todas as situações que vivenciamos a cada momento das nossas vidas, conscientes de que há um “efeito boomerang”, ou seja, o que lançamos, acaba retornando. Estarmos atentos às oportunidades que nos são ofertadas todos os dias, dispostos a nos transformar através delas, e percebendo que os eventos que nos acontecem podem ser bons ou maus apenas e simplesmente porque escolhemos vê-los dessa maneira.


Numa tiragem de tarot esse Arcano pode significar: virar uma página do seu livro da vida, começar algo do zero, hora exata de “pegar o bonde” (pode mudar essa expressão tão antiga por metrô, avião, lancha, etc), uma oportunidade que está batendo à sua porta, ou então que as coisas parecem estar girando em círculos e não saindo do mesmo lugar, ou mesmo uma fase intensa de novos amores, sem nenhuma consequência ou interesse mais sério.

O que é importante lembrarmos, em todas as situações, é que as leis Universais são imutáveis, interdependentes, centralizadoras e, portanto, nos harmonizam garantindo a necessária paz mental. Mas também é preciso que saibamos que nossas escolhas pessoais certamente tem um grau de influência nos resultados que vivemos e no controle que exercemos sobre os nossos Destinos. Não somos meros títeres manipulados por forças implacáveis. Somos dotados de personalidades e de livre-arbítrio (se quiserem chamar de consciência, razão ou bom-senso, fiquem à vontade).

Não nos esqueçamos, nunca, de  que tudo no Universo é impermanente e constantemente flui. Que nada é para sempre e que, portanto, não há Bem que sempre dure, nem Mal que nunca acabe. Inteligente é aquele que sabe aproveitar com um coração amoroso e a mente pacificada, as voltas, os altos e baixos, as surpresas boas e más que a Vida nos oferece.

A TORRE: a inevitável (des)construção do Ego


Torres sabemos serem construções elevadas, verticais, fálicas, que visam proporcionar um distanciamento do chão e uma proximidade maior com os céus. Sempre verdadeiras demonstrações da tecnologia, coragem, arrojo e ciência de cada época da evolução humana. Essas construções permeiam a história da humanidade e as encontramos em todas as culturas e em todos os lugares do planeta.
Foram, e ainda são, observatórios astronômicos. Serviram para manter as chamas, ou luzes, que guiavam e ainda guiam a lugar seguro, os barcos e seus tripulantes quando as noites eram tão escuras que não lhes permitiam seguir as estrelas. Foram construídas para proteção e ataque, possibilitando enxergar ao longe o acampamento inimigo e suas manobras, bem como distanciar-se do alcance de suas armas, mas surpreendendo-o com ataques aéreos. Foram prisões, celeiros e cofres inexpugnáveis. Abrigaram Rapunzéis de todas as eras das tentações da carne, nem sempre com sucesso, dependendo do comprimento de suas tranças e da intensidade de seus desejos... Foram alvos especialmente escolhidos para abomináveis ataques terroristas, pois representam o tamanho do poderio e do orgulho de uma nação. Finalmente, a de Babel, mais personagem bíblica do que uma construção real, um exemplo de como a pretensão do homem em vir a equiparar-se em "estatura" a seu deus, pode acabar em confusão e ruína pessoal.

Vivemos em torres, em nossos apartamentos aglomerados verticalmente, dividindo um mesmo espaço onde, tantas vezes, não conhecemos sequer o vizinho ao lado. É a solidão da grande cidade, a solidão coletiva vivida numa colmeia distópíca, alheios aos demais que conosco convivem.
Quando elaboramos teses e argumentos que justifiquem a necessidade da preservação da nossa intimidade, talvez estejamos confessando o enorme medo de, ao nos comparar com o outro, percebermos que não somos tudo aquilo que pensamos ser. Talvez busquemos celas onde possamos nos acreditar protegidos em nossa presumida superioridade, onde nos sentimos "reis e "rainhas" dos nossos domínios. Talvez nos isolemos cada vez mais por temermos que descubram que, apesar das aparências elaboradamente construídas, somos frágeis, sensíveis, medrosos, inseguros. Talvez...

Mas se concordarmos em ver a Torre como um abrigo temporário, um plano mais elevado, com muitos degraus e pavimentos, de onde podemos melhor avistar o horizonte que nos cerca, uma construção de grossas paredes que nos permitem ouvir nosso próprio silêncio, então estaremos nos referindo à busca da paz, através do isolamento que proporciona uma melhor reflexão sobre as virtudes que podem nos conduzir ao êxito da empreitada.
Ela pode ser vista como a capa que abriga o Eremita, protegendo-o em sua filosófica busca interior. Também pode ser uma declaração pessoal de coragem e determinação como na Força, marcando, confiante, sua envergadura e posição nesta existência. podemos vê-la como o misterioso e imaterial templo que abriga os saberes da Sacerdotisa, ou a ponte que liga os conhecimentos entre o divino e o humano, representados pelo Hierofante. Ou, quem sabe, a masmorra onde o Diabo mantém aprisionadas nas correntes do egocentrismo, suas arrogantes e ambiciosas vitimas.

Arcano 16 do tarot, a TORRE segue a carta do Diabo e precede a da Estrela, ou seja, é a consequência de todos os nossos vícios, nossos enganos, nossas dependências e erros. É a desconstrução necessária, após a dolorosa tomada de consciência, para que possamos novamente voltar a nos erguer. É o implodir daquilo que não foi construído para durar, daquilo que não tem solidez, nem embasamento, para, sobre as ruínas, podermos reerguer nossas próprias pessoas com mais sabedoria e equilíbrio.